Between Angels and Insects...: StockCar [Deconstructed]

Desde 2006 tenho um certo contato com a StockCar, mas confesso que sempre enxerguei o evento na ótica do piloto. Em 2006 participei de três provas da, então inédita, Stock Jr.
Uma espécie de categoria de base da Stock. E durante essas 3 corridas, eu estive envolvido com o evento, mas era apenas uma questão de: chegar no autódromo, conversar com os mecânicos, concentrar, entrar no carro, sair, conversar com os mecânicos e ir embora. Daí, voltava pro hotel, tomava um banho, assistia um pouco de TV, jantava, "estudava" os meus tempos de volta, as parciais, olhava o tempo dos outros pilotos, pensava um pouco, fazia um ou dois planos e depois ia dormir, mais cedo do que o de costume.

Porém neste fim de semana foi diferente. Ao invés de ir embora ao final da corrida, eu simplesmente cheguei depois da corrida. Sim, isso mesmo! Vi a corrida pela TV, com narração, com diversos ângulos de câmera, vi replay, vi várias disputas e etc... coisa que em autódromo num dá pra ver! :( E tudo isso bem quentinho na cama, de pijamas e meias, comendo biscoito c/ leite (ou mais tarde um pouco, beliscando pedacinhos de goiabada!). Daí terminou a corrida, eu me levantei, tomei banho, aluguei um carro e parti em direção a Santa Cruz do Sul (sem nunca ter ido praquelas bandas... mas existe placa na estrada pra quê né? :P).
Duas horas depois, caindo de sono pq tive que ir devagar, e depois de perguntar para alguns pedestres na estrada, chego ao autódromo de Santa Cruz. E eu sabia que estava no rumo certo, pois eu estava no "contra-fluxo" do povo... uma fileira de carros indo embora e eu chegando! :D Sem trânsito nenhum. Daí comecei a gostar!

Ao entrar, comecei a me deparar com "um mundo" do qual eu nunca tinha vivido: "o fim da festa". Os pilotos já tinham ido todos embora, o que pra mim não foi nada ruim, pois nunca fui "baba-ovo" de nenhum deles. A "nata" também (VIPs, amigos de pilotos, familiares, e convidados) já havia se retirado. E, na minha opinião, ficou o divertido: os carros e os mecânicos - que se divertem uns com os outros. E posso te dizer que isso é assim em qualquer categoria. Seja na Stock, no Marcas aqui do RS, na GT3, F3, e assim por diante. O povo trabalha muito, mas se diverte igualmente. Muitas histórias, muitas piadas. O importante é sempre estar sorrido. Trabalhando e sorrindo.

Nunca tinha visto a Stock por esse ângulo e confesso que foi bastante interessante. Os caras desmontam tudo (!!!), os boxes inteiros vão guardados em diversas caixas. Todas elas numeradas e identificadas (ex: "parede lateral - sala pilotos", "frente boxes", "trás oficina"). Tudo sincronizado: "Isso aqui vai primeiro, depois isso, daí isso, isso e aquilo. Amarra tudo e por fim vai a geladeira. Aqui tá a corda pra ti amarrar ela bem.". Pra guardar os carros também. As peças frágeis são desmontadas, enroladas em cobertores, os pneus vão num lugar próprio. Tem caminhão que leva os carros no "segundo andar" e etc. Espetacular esse processo. Fico imaginando como é na F1. Aliás, lembro de uma reportagem que vi uma vez na TV sobre isso. Mas eles não deram muitos detalhes.

Enfim, a tarde caiu, a noite chegou e os caminhões começaram, um a um, a partir. Foi legal ver isso: os motoristas diminuiam a velocidade, davam uma buzinadinha, acenavam com a mão pros outros caras de outras equipes (provavelmente amigos que só se encontram em dia corridas) e diziam: "Até mais! Nos vemos em Campo Grande daqui a duas semanas!!! Façam uma boa viagem e fiquem com Deus!" :D

Jantamos por lá mesmo, num "restaurante" itinerante que acompanha a Stock. E o restaurante é bem improvisado... o piso fica em desnível coberto por uma lona grossa, as cadeiras e mesas se equilibram na irregularidade da solo. Ele é basicamente frequentado pelos mecânicos das equipes. E o melhor: fica aberto de 7:30 da manhã até às 22:30 da noite. Direto!!! :D
Quando tudo estava pronto, fomos para o hotel, conversamos sobre a Stock, as corridas, os acertos dos carros, coisas técnicas, conversas de box e etc. Pra mim, foi tudo bem produtivo.
Fiquei até às 22:00, pois pelos meus cálculos eu chegaria às 00:00 e estava com medo de sentir sono. Mas... não foi isso que aconteceu. Com a estrada vazia, os radares todos "mapeados" e concentração total, pude andar mais rápido e o sono nem pensou em aparecer. Ao contrário fiquei bem acordado e com a mente "absorvendo" tudo aquilo.

Ao ir embora, percebi que tinha ampliado minha visão do funcionamento das coisas, aprendido sobre coisas que podem me ajudar mais pra frente, viajado, conhecido novos lugares, conhecido novas pessoas, feito novos contatos, além de ter me terdivertido pra caramba!
E você então deve estar se perguntando: "Mas o que ele fazer lá?". Resposta: Apenas encontrar um amigo... ;)

Alex R.